sexta-feira, 28 de julho de 2006

Aonde chega a pouca VERGONHA.

Acabo de ler no Público de 25 do corrente a notícia sobre o estado a que chegou a Estalagem dos Vales em Ferreira do Zêzere.
Para quem não sabe, este edifício foi, só, o berço da orquestração da “Portuguesa” aquele tema que todos conhecemos, com o qual todos vibramos, quanto mais não seja nos jogos da selecção. Foi, também, o berço do Turismo Cultural Português e foi a “sede informal” da chamada Escola dos Vales que, reuniu em Ferreira do Zêzere, os mais destacados vultos da pintura, da música, da escultura ou da escrita do século XIX.
Esta “Estalagem dos Vales” foi o orgulho das gerações mais antigas de Ferreirenses que sabiam que por ali passavam as mais importantes figuras do País e, nos tempos que correm, a Estalagem dos Vales, num concelho dirigido por outras pessoas, seria seguramente uma atração turística da maior importância.
Mas em Ferreira do Zêzere, vá se lá saber porquê, desde que Luís Pereira está na Câmara, as coisas funcionam de forma diferente. Primeiro foi a demolição em 1991 da Capela do Carril, a mais antiga que existia no Concelho (datava de 1569), parece que não tinha elementos arquitectónicos de relevância, depois, mais recentemente ruíram os Paços do Concelho num processo cujas responsabilidades nunca foram apuradas e onde a culpa morreu solteira. Já em 2006 foi demolido um Solar na Frazoeira que pertencera ao explorador do Rio Amazonas, Francisco Saraiva de Matos e, agora, foi a vez da Estalagem dos Vales ser demolida com ou sem licença da Câmara, não o sabemos.
Segundo a notícia acima descrita, o proprietário, quis vender o imóvel à Câmara por 8 mil contos, menos que o valor do Volvo recentemente adquirido pela autarquia e seguramente muitíssimo menos que o preço pago pela Rotunda que hoje fere a vista a quem entra em Ferreira pelo lado do cemitério. Mas a Câmara, não teve dinheiro para o adquirir.
Agora, diz a Câmara, nada há a fazer a não ser a construção de uma habitação particular, dizem que o edifício não tem relevância arquitectónica e defendem até que aquilo não é histórico coisa nenhuma, que até só lá dormiu o Rei D.Carlos.
E assim vai o mandato de Luís Ribeiro Pereira, Jacinto Flores e Manuel da Silva António.
Pois julgo que é chegado o tempo dos Ferreirenses, sejam lá de que partidos forem, se manifestarem contra actos como este. A fachada existe, faz parte de um edifício que vem descrito no PDM de 1995 e pode-se muito bem criar ali um edifício destinado a iniciativas culturais e a evocar a memória dos que por ali passaram.
O que não se pode é continuar a governar Ferreira desta forma, o que não se pode é desviar a atenção dos munícipes para um atentado contra o património omitindo a sua enorme importância, o que não se pode é construir um cine-teatro, um edifício cultural, adquirir uma Quinta do Adro e depois ter estes edifícios fechados e, mais importante do que isso, não se pode cercear ás gerações do futuro o glorioso passado de Ferreira do Zêzere seja a que pretexto for. Afinal aonde chega a pouca vergonha?
Bruno Silva

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